O sonho de Jocelyn
O meu nome ecoava nas colunas. Mais um espectáculo. O arame estava suspenso no ar e sem qualquer rede de segurança eu subia as escadas que me levavam à plataforma mais alta. Já perdera a conta à quantidade de vezes que as minhas mãos haviam passado por aqueles degraus de corda.
A vista era assombrosa: as pessoas pareciam formigas, os sons chegavam como ecos e a liberdade estava mais próxima.
Quando viera para o circo, há quinze anos, nunca pensara que a sua vida permanecesse de tal forma igual, rotineira. Viera com o sonho de conhecer outras culturas e gentes, e agora, tudo parecia igual, sempre o mesmo. As pessoas não mudavam, os números que apresentavam eram praticamente os mesmos. Era difícil encontrar uma pessoa que se salientasse no público e conhecer novas cidades era impensável.
O trabalho era árduo e cansativo. Treinos todos os dias, quase sem intervalos para comer. Aos trinta e três anos, Jocelyn parecia ter cinquenta tal era o peso que carregava sobre os ombros.
Não tinha família, pois abandonara-os para poder seguir um sonho. Ser bailarina era a sua maior ambição, mas quando não a aceitaram vezes sem conta nas escolas de dança, apressara-se a ganhar dinheiro de outras formas. Cega pela magia do circo inscrevera-se e agora bailava, em cima de um arame, esperando o dia em que o equilíbrio lhe escapava e a sua vida chegava ao fim.
Triste e zangada com a vida apreciava as caras felizes do público: as crianças assustadas com a altura a que estava, os pais encantados com a sua dança.
Sem a possibilidade de ver os filhos e os netos a crescer, Jocelyn lutou para não deixar que a depressão tomasse conta de si, mas a solidão que sentia fê-la cometer o acto seguinte: saltar do arame.
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