Há apenas uma coisa que não entendo. A sua paixão. Aquele amor platónico que o leva aos céus. O toque das suas mãos no pêlo reluzente; o sorriso que se esbate na sua face quando o passeia; a alegria e a adoração contagiantes que transmite quando salta. Aquela era a vida que ele queria ter, aquela era a vida que ele sonhara. E agora? Agora era real.
- Onde vais tão cedo? – Perguntei quando senti a cama ranger com o movimento do seu corpo.
- Vou ao estábulo. – Como todas as manhãs fazia: levantava-se, lavava-se, vestia-se, dava-me um beijo e saía. Desde que casara-mos que era assim, sempre a mesma rotina. Sentia o meu coração apertado pois, por vezes, dava-me a entender que gostava mais dos seus cavalos do que de mim. Às vezes penso que talvez ele tenha casado comigo apenas pelos meus cavalos, agora dele.
Hoje é domingo e como em todos os domingos, dia de corridas. A algazarra começava pela manhã quando os vários concorrentes começavam a chegar com as suas carrinhas e atrelados, com os preciosos cavalos. Estacionavam uns ao lado dos outros, respeitando-se mutuamente. Algo poucas vezes visto noutros desportos. As suas tendas montavam-se quase automaticamente quanto era o treino. Os cavalos relinchavam apelando à compreensão dos seus tratadores. Muitos deles pareciam quase ter conversas com os seus cavalos, tal era a sintonia entre eles.
No seu local habitual estava Robert, o meu Robert. Já com o seu traje de corrida vestido, entrançava o pêlo do seu cavalo. Furão de nome, a criatura era magnífica. O seu pêlo sempre brilhante e bem tratado quase parecia reflectir o rosto do dono e os músculos bem definidos proporcionavam-lhe os dois títulos que já tinha. Os homens encarregues da organização da corrida já haviam chamado os corredores e como sempre, Robert sorria para mim, aproximava-se, sussurrava-me ao ouvido que me amava e beijava-me levemente nos lábios. Mais uma corrida ia começar.
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