sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Força Irmão!



Ia a subir as escadas em direcção ao meu quarto enquanto jogava um jogo no meu Game Boy, quando ouvi um choro e reconheci imediatamente de onde vinha. Larguei imediatamente a pequena consola, e corri até à última porta do corredor, que possuia uma colagem com um nome: Nicholas.
- Nick, estás bem?- Perguntei ao vê-lo debruçado sobre a cama, chorando com a cabeça assente nos braços.- Por favor, diz-me o que se passa!
- Estou triste, mano...- Olhou-me com os seus olhos vermelhos e húmidos.
- Mas porquê, Nicky? Estás a deixar-me preocupado... Por favor, diz-me o que se passa! Sabes que estou sempre do teu lado...
- A Ally não gosta de mim...- Chorou e abraçou-me. Ally era a rapariga do outro lado da rua por quem Nick sempre tivera um fraquinho, no entanto a coragem para se declarar faltava-lhe. Apesar de ter apenas 7 anos, Nick já pensava bem nas suas atitudes. Creio que essa fora sempre uma característica do meu irmão.
- Miúdas...- Murmurei e passei a mão pelos seus caracóis quase inexistentes.- Ela é que fica a perder, Nick...
- Ela gosta do Teddy Smith...- Disse com desprezo.
- Oh! O Teddy...- Revirei os olhos.- Nick, tu és uma excelente pessoa e um dia vai aparecer uma rapariga que te vai dar o devido valor, e aí podes fazer-lhe montes de músicas... nem acredito que falei tão bem. – Nick sorriu um pouco e quando olhou para mim vi um brilho no seu olhar.
- Achas que a Ally merece a minha música, Joe?
- Nick... a tua música é boa demais para quem quer que seja.- Ele sorriu. Quando se tecia elogios ao seu talento, um sorriso formava instantaneamente na sua carinha jovial.
- Obrigado, Joe. Eu também acho que as tuas brincadeiras são boas demais para quem quer que seja...- Sorri.
- És o meu melhor amigo, Nicholas... Por isso não podes ficar em baixo por causa de uma miúda.
- Tu também és o meu melhor amigo, Joey...- Sorriu.

Nunca esquecerei aquele sorriso, na verdade. Um lado que poucos conhecem do meu irmão é a sua alegria de viver, o seu gosto pela vida e pela arte, mas pelos visto eu também não o conhecia tão bem quanto pensava, pois uma das coisas que pensava que o Nick era incapaz de fazer era magoar quem quer que fosse, mas fê-lo.
Olhei as gotas de água a cair no vidro do meu quadro e ouvi o eco da chuva no meu veículo. Aquela musica relaxante que conseguia inspirar-me em qualquer altura.
Sentia a falta do Nick. Sentia a falta da sua voz e do seu sorriso, de como se irritava quando usava as suas meias ou de como eramos mais que irmãos, mais que melhores amigos... Chego a pensar, por vezes, que erámos como uma só pessoa. Não falo no sentido de uma relação amorosa, mas davamo-nos tão bem e a preocupação com o outro era tão abundante que chego a perguntar-me se... se... O que seria de nós se isto não tivesse acontecido? O que seria de nós se não fosse obrigado a cortar este laço?

Sei que nada me deveria afastar do meu irmão; ainda que saiba que não é inocente, pois ele confessou-mo, por vezes dou por mim a desejar que ele não tivesse sido condenado, que apenas nos tivessem exigido uma pena em dinheiro, pois se esse fosse o caso, eu penso que daria tudo o que tivesse só para ter o meu irmão comigo. Mas agora é diferente. Agora, encontro-me à porta da penitenciária e não sei se entre e o veja ou não. A dor é muita. Mas talvez, se o Nick souber que o perdoo, que o amo como sempre amei... talvez, e apenas talvez, ele se sinta melhor; ele se sinta um pouco mais feliz, apoiado e amado. Sei que está arrependido, porém, por vezes, quando transbordo de uma raiva eloquente, penso que isso é apenas uma mentira que ele nos diz e que diz a si próprio para justificar as suas acções. Eu sei que o Nick não é má pessoa, eu sei, eu sei, eu sei…

Descansei a cabeça no volante e deixei cair lágrimas de cobardia. Cobardia porque temia olhar nos olhos do meu irmão e dizer que o amava, cobardia porque temia vê-lo num estado deplorável, cobardia porque não acreditava totalmente na palavra dele. Mas ele é meu irmão. Eu tenho de acreditar. Certo?

Um grito começou a formar-se na minha garganta, preso pelas lágrimas que escorriam livremente pela minha cara: Força irmão! Mas esse grito não foi mais do que um mero sussurro.
Finalmente, pus pé ao acelerador e decidi deixar a penitenciária para trás. Talvez numa tentativa de deixar, também, o passado e a culpa para trás.

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