sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Preso ao Passado



- Reclusos da ala quatro é favor prepararem-se para a verificação das celas. – Mais um dia nesta nova vida. Mais um dia a pagar pelo que fiz. Levantei-me e ajeitei minimamente os lençóis brancos esburacados pelas traças e sacudi a almofada. Nunca em toda a minha vida fora-me exigido fazer uma cama. Nunca em toda a minha vida fora tratado tão mal. Mas merecia, e sabia disso.
O tilintar das chaves do guarda prisional aproximava-se. Há quanto tempo estaria ali? Quatro dias. Parecia que já passara uma eternidade. O guarda sacudiu o bastão e riu-se da minha expressão apavorada.
Nem os melhores advogados do planeta conseguiriam tirar-me daquele inferno. Estava arrependido, muito arrependido. O que fizera fora errado.

- Não te atrevas a sair hoje, Nick! Temos concerto amanhã. Temos de estar no nosso melhor! – Kevin advertiu-me. Ignorei-o e saí do quarto de hotel.
- Ele ainda se vai arrepender por agir assim. Estamos a perdê-lo, Kev. – Ainda ouvi a voz do Joe, calma e serena.

Vagueava pela estrada à procura de mais uma. Ainda não estava saciado e queria mais.
- Olá boneca. – Disse para uma rapariga que se encontrava encostada a uma montra luminosa. Eram três da manhã e lembro-me como se fosse hoje. Ela rejeitou-me à primeira. Sem sequer olhar para mim. Agarrou nervosamente o casaco, apertando-o até ao pescoço. – Não tens calor com essa roupa toda? Posso ajudar-te a tirá-la. – Ela riu-se nervosamente e afastou-se. Segui-a. – Vá lá! Não sabes quem eu sou? Muita gente ia querer uma voltinha comigo.
- Por favor, deixa-me em paz. – Acelerou o passo. – Estou à espera de um amigo. – Disse quando viu que não parava. Mantive o meu ar sedutor, ainda tentando persuadi-la. Sem efeito algum, agarrei o seu braço com força e puxei-a para o beco escuro. O que se seguiu foi rápido. No momento senti uma adrenalina tão grande que pensei que superara a felicidade de estar em palco a cantar para milhares de fãs. Senti-me grande.
Deixa-me. Por favor! – Ela gritava enquanto tentava arrancar-lhe as roupas. Aquele casaco escondia demasiada coisa. Coisas que queria descobrir. A bem ou a mal.
Consegui por fim tirar-lhe o casacão. A camisa foi fácil e atirei-me logo aos seus seios só protegidos pela renda do soutien. Tão sedutor. Ela não tinha nem ideia daquilo que me estava a provocar. Os cabelos castanhos suaves, agora emaranhados, eram uma visão excitante que me deixava sem folgo só de olhar e saber que podia tocar.
Ela continuava a remexer-se debaixo de mim quando a obriguei a deitar-se no contentor do lixo fechado. Nunca pensei em fazer amor ao relento, mas a nova experiência estava a deixar-me louco. Doente.
Puxei as suas calças para baixo com algum esforço já que a minha mão esquerda calejada pela guitarra continuava a segurar-lhe o pescoço. Apertei-a contra mim para a poder sentir. Para sentir o seu prazer.
Mas não havia prazer nenhum ali além do meu.

Ainda hoje oiço os gritos dela na minha cabeça. E são esses gritos que me fazem aguentar aqui na prisão. Porque eu fui mau.
Kevin preocupava-se mais do que devia. Pensava eu que a sua preocupação era excessiva. Mas não. Eu estava doente. Eu precisava de ajuda. E agora tenho essa ajuda, mas isso não muda o que fiz, nem os danos que causei à pobre rapariga. Podia enumerar tudo o que perdeu a vida com a minha estupidez. Podia começar pela banda, pelas fãs, pela família. Sei que apesar de me acompanharem, nunca mais olharão para mim da mesma forma. Eu próprio não consigo olhar-me ao espelho.
Só me resta cumprir os meus anos de cadeia, pedir desculpa a todos e tentar que estas lembranças nunca sejam esquecidas. Pois não quero que nada parecido aconteça de novo.

Mais uma página do meu diário passada.
Nick Jonas
Recluso número 5382 do Instituto Prisional de Los Angeles.

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